domingo, abril 12, 2009

Feliz Páscoa 2



Para minha surpresa a Semana Santa, foi bastante produtiva. Acho que a casa vazia fez bem para minha consciência vadia e ela resolveu trabalhar. E desde que a oportunidade - de ter visto cinco filmes desde a última postagem - e a vontade de escrever chegaram juntas, mais uma vez, aqui estou eu.

# Simplesmente Feliz (Happy-Go-Lucky)

Embora seus títulos (original e nacional) sugiram que esse seja um filme sobre alegria, acredito que ele vá mais longe. Poppy, a protagonista, é uma professora de primário cuja principal característica é estar sempre em estado de graça. E devido ao seu curioso ânimo é sempre positiva, otimista e receptiva com as pessoas. Não importa se elas lhe sejam conhecidas, próximas, ou mesmo recíprocas, Poppy sempre as trata com entusiasmo, piadas e sorrisos. Em seu filme anterior - Vera Drake- Mike Leigh explorou uma personagem para qual o ofício ingrato de fazer abortos tinha um simbolismo político diante de uma sociedade essencialmente machista. Aqui, ele diverte o espectador com uma personagem cujo símbolo é sua felicidade a qualquer custo em tempos de egoísmo e isolamento do indivíduo. E como a primeira, inevitavelmente, deu de cara com o sistema judicial, essa aqui, inevitavelmente, encontrará alguém para quem seus modos não trarão alento. Sally Hawkins brilha no papel principal e Eddie Marsan está excepcional no papel de sua antítese (ao ponto de roubar dela o clímax da história). A atriz ganhou diversos prêmios entre os críticos de cinema dos EUA, mas infelizmente não foi indicada ao Oscar. É realmente uma pena, pois esta poderia ter sido uma boa plataforma de projeção de seu excelente trabalho. Além disso, seria um reconhecimento mais do que merecido tendo em vista sua superioridade diante de todas as concorrentes ao prêmio e sua eventual vencedora. Sendo assim,Simplesmente Feliz sem dúvidas está entre os melhores filmes concebidos no ano passado.

Trailer:



# Um Dia de Cão (Dog Day Afternoon)

Sonny Wortzik é um cara com um plano: assaltar um banco de forma rápida e discreta. Devido a uma mistura de inexperiência e ingenuidade, contudo, o que ele vai conseguir é armar um espetáculo que será acompanhado durante horas pela polícia, pela televisão e pelo povo nas ruas. Considerado um exemplo-chave do melhor cinema americano dos anos 70, o filme reúne os elementos exatos para garantir tal posto. O conteúdo da narrativa e seu substrato político, além do trabalho de Sidnay Lumet por trás da câmera são uma amostra da típica aproximação do cinema hollywood com a crueza, e marginalidade da vida de grupos específicos do universo urbano. O elenco é impecável. Encabeçado por Al Pacino (a quem a câmera segue quase em tempo integral) apoiado por um grupo de coadjuvantes que exploram ao máximo seu reduzido screentime (John Cazale, Chris Sarandon, Penelope Allen, Susan Peretz e Judith Malina, em especial) todos os atores dão um banho de talento. No mais, Um Dia de Cão é narrativa sobre a qual não se deve revelar nenhum detalhe. O gosto de assisti-la é a surpresa de descobrir as motivações de Sonny e como essas vão influenciar na condução da negociação com a polícia, seu desespero e os populares curiosos.

Cena do testamento (SPOILERZÃO):



# XXY

Filmado em cores frias, a produção argentina trata de temas delicados: o hermafroditismo sexual e a sexualidade na adolescência. Alex é cromossomialmente um garoto, porém nasceu com caracteres sexuais de ambos os sexos. Como o sexo feminino é embriologicamente anterior ao masculino, desde criança ela toma medicamentos que visam a sua "normalização", isto é, conversão em um corpo unicamente feminino. Mas nem tudo é tão simples assim, pois, Alex ainda não sabe o que mudar em seu corpo, ou mesmo se que mudar. Seu pai prefere que ela decida, sua mãe compreende o problema de forma mais ansiosa e é sua pressa que dá início a uma série de acontecimentos que orientarão Alex em busca de suas próprias respostas. O filme tem o mérito de explorar um tema inovador e curioso, mas talvez seja confuso para quem não está familiarizado com ele. Também é recheado de cenas fortes que ilustram a conflituosa relação Alex/gênero/sexo. Em termos artísticos, porém, configura apenas uma ótima película para ser utilizada em contextos pedagógicos.

Trailer:



# Batismo de Sangue

Existe no período que compreende o Regime Militar brasileiro uma grande fonte de material para todo tipo de arte que se queira produzir. Acredito que é aí que reside o berço do Brasil moderno e a justificação da forma como este produz arte. Seja porque foi a partir daí que começamos a fazer muita besteira e pouca substância, ou seja, porque são dessa época os maiores referenciais do que foi feito em teatro e música para muitos de nós. Entre todas as histórias macabras do período, talvez das interessantes para uma narrativa cinematográfica, seja a do assassinato do líder da guerrilha urbana Carlos Marighela, sua conexão com a articulação do clero de esquerda e a prisão e tortura deste. É justamente esse episódio que é esquadrinhado pelo filme do diretor Helvécio Ratton. Aquilo que poderia dar uma bela obra, todavia, esbarra nos problemas comuns das produções nacionais: edição pouco elaborada, incapacidade de melindrar com crueza dos fatos, dificuldade em fazer thrillers, e trilha sonora ruim. Triste pensar que até mesmo o episódio do falecido Linha Direta Justiça sobre o tema, tenha sido melhor concebido e desenvolvido.

Cena de um documentário sobre o Frei Tito:



# A Outra (The Other Boleyn Girl)

A história da família real britânica está cheia de acontecimentos que por sua grandeza, mistério e importância fazem do caso Charles/Lady Di/Camilla Parker Bows, tão grandes quanto uma briga qualquer estampada num tablóide. Especializado em escrever roteiros baseados em personalidades históricas, Peter Morgan, escreveu um roteiro sobre como a família Bolena se aproximou do rei Henry VIII. Como desse encontro resultou a subida da primogênita Ana ao trono, o surgimento do Angliganismo e o nascimento da lendária Elizabeth I é uma abstração literária a partir dos poucos fatos que se tem da época. Apesar de o filme ter sido malhado pela crítica e configurar também apenas uma ótima película para ser utilizada em contextos pedagógicos, ele tem seus pequenos méritos. O primeiro é a bela reconstituição visual da época através de um lindo figuro e excelente direção de arte. O segundo é o elenco encabeçado por Natalie Portman e Scarlett Johansson nos papéis principais e com as veteranas Kristin Scott Thomas e Ana Torrent excelentes em seus pequenos papéis. Para um filme que contém um implícito discurso feminista, nada mais justo do que presentear o público com ótimas atrizes.

Money scene de Ana Torrent (Catarina de Aragão):



E se eu tivesse que enlecá-los:

1º Simplesmente Feliz
2º Um Dia de Cão
3º A Outra
4º Batismo de Sangue
5º XXY

2 comentários:

Glauber Farias disse...

pq vc n me disse q tinha um blog?? sempre achei que vc deveria ter mesmo um sobre cinema... gostei muito! essa estrutura de tops5 semanais, bem legal e tal (se tivesse um criterio linkando os 5 seria otimo)... e quem nao sabe escrever é A SUA MAE!

Continue escrevendo que eu dou o maior apoio, vou até fazer um layout legal no wordpress pra vc se empolgar.

=***

Glauber Farias disse...

nao comer as letras das palavras tbm eh uma boa ideia, ficadica