domingo, abril 26, 2009

Fechando o mês


Terry O'Neill tirou essa foto para comemorar o Oscar da futura esposa (Faye Dunaway de Rede de Intrigas). A obra foi entitulada "The Morning After".


# Mulan

Produzido pela Disney, o filme parece ter o objetivo de romper paradigmas do estúdio. Assim, foi o primeiro deste a se passar numa guerra, protagonizado por uma figura asiática, e até mesmo exibir sangue em uma personagem ferida. A história toma espaço na China Imperial prestes a ser invadida pelos Hunos. Após saber que seu pai fora convocado a juntar-se ao exército, a jovem Mulan resolve cortar as madeixas e substituí-lo. Se junta a ela o fiel escudeiro Mushu, um dragãozinho que fala pelos cotovelos e cumpre o papel de coadjuvante divertido. Embora a trajetória da jovem chinesa seja bem diferente das outras heroínas da Disney, o que poderia ser um pequeno libelo feminista esbarra nas obviedades do final feliz. Durante a guerra, Mulan aprende, e ensina ao seu país que pode ser tão capaz, ou melhor, que qualquer soldado homem. Mas como não poderia deixar de ser para um filme da turma do Mickey, ela acaba por se casar com um general que faz as vezes de príncipe. Desta forma, o estúdio comprovou que não estava pronto para inovações o que, provavelmente, lhe fez perder a primazia do gênero para a Pixar anos mais tarde.


Cristina Aguilera canta "Reflection" canção tema do filme:


# Cidade de Deus


Antes de se dedicar a uma carreira pseudo-internacionalista, Fernando Meirelles conseguia como ninguém captar as mazelas da vida urbana brasileira. Fez isso com muito humor em Domésticas e surpreendeu a todos com Cidade de Deus. Tendo uma favela carioca como cenário, a obra conta histórias de seus moradores para contar a dela. Mortes banais, crueldades, violência sexual dividem espaço com romances, piadas e esperança numa narrativa bem elaborada e amarrada. É difícil escolher o maior trunfo do filme: seu elenco afiadíssimo composto essencialmente de moradores da favela, sua fotografia marcada por cores fortes, sua edição rápida e criativa ou a própria relevância de seu tema. É fácil, porém, entender por que é tão superior a filmes que seguiram em sua esteira mas não têm a sua força como Quem Quer Ser um Milionário? ou Era uma Vez. Cidade não se presta a humanizar suas personagens, não lhes oferece chance de redenção, não lhes garante um final feliz, tampouco descamba no sentimentalismo. Tudo nele se pauta no real e mais real tenta ser. Por isso, certamente, será um marco não só na história do cinema brasileiro, mas mundial. Envergonha pensar que foi dirigido pelo mesmo homem que concebeu Ensaio Sobre a Cegueira, que tem todos os defeitos que poderiam ter estragado seu melhor trabalho: péssimo elenco, péssimo uso da narração em primeira pessoa, fotografia horrorosa, dificuldade em melindrar com o conteúdo mais agressivo do roteiro, dentre outros. Fernando Meirelles declarou, certa vez, que gostaria de fazer pelo cinema nacional o que Pedro Almodóvar fez pelo espanhol. Talvez ele deva repensar nessa proposta.

Trailer:


# Antes que o Diabo Saiba Você Está Morto (Before the Devil Knows You're Dead)

Último filme de Sidney Lumet enquanto diretor, Antes que o Diabo Saiba tem o principal traço da obra do mestre: personagens motivados por seus desejos egoístas a envolver-se numa trama dos quais invariavelmente vão sair feridos. Andy Henson é um fraudulento executivo cujo casamento escorre-lhe pelas mãos enquanto faz uso de drogas. Hank Henson é um divorciado pressionado pela ex-mulher para que pague pensão. Quebrados e desejosos de uma saída fácil, o dois iniciam sua derrocada quando Andy convence Hank a assaltar a joalheria dos pais. O plano que parecia infalível mostra-se desastroso diante má sorte e falta de preparo dos irmãos. E esse erro irá expor toda uma dinâmica familiar desajustada e personalidades frágeis. Tecnicamente, o filme é excelente, com destaque para sua ótima edição. Além disso, Lumet mais uma vez acertou no elenco (Albert Finney brilha como o patriarca Charles Henson) e presenteou o público com uma ótima direção. Contudo, infelizmente há aqui uma tentativa de justificar os atos dos personagens descambando no velho lugar comum do cinema americano: a redenção. Lumet se despediu de uma bela forma, mas é uma pena que não tenha sido com chave de ouro.

Trailer:


#Rede de Intrigas (Network)

Outro filme de Sidney Lumet, Rede de Intrigas, justifica o status dele de grande diretor. Numa emissora de TV, um apresentador - Howard Beale - prestes a ser demitido devido a queda de audiência de seu programa declara ao vivo que irá suicidar-se em frente as câmeras no dia seguinte. Inesperadamente, sua declaração faz subir os níveis de audiência da trasmissão diária. De olho nos lucros, a ambiciosa Diana Christensen convence o não mais altruísta Frank Hackett a manter o "profeta" na programação. Mais do que isso: dar-lhe um novo programa e montar toda uma grade de shows sensacionalistas ao seu redor. O que ambos não percebem é que Beale está realmente doente e delirando. No meio de toda essa loucura, o mais sensato é o veterano Max Schumacher que a despeito de seus princípios envolve-se com Diane em um romance metáfora da relação conflituosa entre as gerações de produtores de TV. Embora o filme tenha ficado famoso pela sua crítica veemente à televisão, vale muito a pena assisti-lo pelos seus méritos artísticos. Não se utiliza aqui o artifício barato de avolumar a música para aprofundar as emoções das cenas, como em Crash, por exemplo. Muito menos soam artificiais as longas falas das personagens que poderiam facilmente ganhar tom didático como em diversos longas. William Holden, Peter Finch, Robert Duvall e Faye Dunaway (DIVINA) estão excepcionais nos papéis principais. Por sua vez, Beatrice Straight e Ned Beatty dominam a câmera em suas pequenas cenas.

Faye Dunaway e William Holden:


#Em Nome de Deus (The Magdalene Sisters)

Criados para abrigar prostitutas em busca de reabilitação social, os Asilos de Madalena foram ganhando uma finalidade macabra ao longo dos anos. Para lá eram enviadas jovens que cometiam os supostos pecados de fazerem sexo, ou darem a luz antes do casamento e até mesmo serem assanhadas. Uma vez lá dentro lhes era quase impossível retornar à liberdade sendo vistas como meretrizes por desconhecidos e expulsas do seio familiar. Sendo assim, passavam os restos de seus dias condenadas a uma estafante rotina de trabalho e abusos. Escrito e dirido por Peter Mullen, o filme segue a trajetória de quatro internas de um desses asilos irlandeses. Cada uma delas foi internada por um motivo diferente, porém todas são vítimas da desautorização de seu próprio eu enquanto sujeito que deseja, pensa e sente. Surpreendetemente para um filme de arte europeu, as personagens não são apenas uma ilustração para uma reflexão mais profunda. Embora haja um implícito discurso feminista, ao cabo, Em Nome de Deus é apenas as histórias das protagonistas. As atrizes são muito boas e infelizmente parecem não ter tido muita sorte depois desse projeto. Anne-Marie Duff rouba o filme em sua segunda metade, Dorothy Duffy tem as cenas mais comoventes, Nora-Jane Noone tem uma incrível presença e parece capturar a câmera para si. O grande destaque é de Eileen Walsh no papel da mentalmente desajustada, Crispine. Tecnicamente falando, a melhor cena fica por conta de um inesperado ângulo explorado por Mullen no momento de maior sofrimento da personagem de Noone. Existe uma cena parecida em O Escafrando e a Borboleta, e não seria estranho pensar num empréstimo.

"A" cena [SPOILER]:


E se eu tivesse que ranqueá-los:

1º Cidade de Deus
2º Rede de Intrigas
3º Em Nome de Deus
4º Antes que o Diabo Saiba Você Está Morto
5º Mulan

quinta-feira, abril 23, 2009

62º Festival de Cannes


Criado para contornar a censura facista sobre o Festival de Veneza, o Festival de Cannes foi aos poucos roubando deste o papel de mais importante evento do cinema mundial. Realizado nas margens do litoral francês, o festival já assistiu a glória de nomes como Jacques-Yves Cousteau, Glauber Rocha, e Federico Fellini.

A programação constra com quatro grandes mostras - Filmes em Competição, Filmes Fora de Competição, Midnight Screenings, Special Screenings e Uncertain Regard - além de um filme de abertura e outro de fechamento.

Glorioso pelo seu caráter vanguardista, pela primeira vez o festival será aberto por uma animação. Up, da Pixar, conta a história de um senhor que aos 78 anos decide fazer uma viagem de balão pela América do Sul. Segundo um boato corrente na internet o argumento inspira-se no caso do padre brasileiro que se morreu em alto mar ao tentar aventura parecida.

Mas o Brasil será também lembrado pela presença do filme À Deriva de Heitor Dhalia (O Cheiro do Ralo). A nova obra de Dhalia parece ter um caráter bem diferente da anterior, sendo uma narrativa delicada sobre a passagem para a vida adulta em meio a uma crise familiar. A Romênia confirma a boa fase de sua produção cinematográfica com dois filmes nessa mostra. Outros 16 filmes completam essa sessão.

Os Special e Midnight Screenings configuram em lineups sem grandes nomes. O documentário L'épine Dans Le Coeur de Michel Gondry (Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças) se destaca entre os primeiros. Assim como o terror Drag Me to Hell do diretor Sam Raimi (O Homem-Aranha) entre os segundos.

The Imaginarium of Doctor Parnassus, último trabalho de Heath Ledger será exibido fora de competição. Junta-se a este o francês L'Armée du crime que trata sobre anti-semitismo e tortura, e o épico Agora de Alejandro Amenábar. Esse e Parnassus são filmes bastante esperados devido ao elenco estelar e o opulência dos projetos.

A mostra competitiva, por sua vez, está recheada de ex-vencedores e diretores badalados. Jane Campion retorna, 16 anos anos após O Piano, com Brigth Star. Seu novo longa retrata o romance entre o poeta John Keats e Fanny Brawne. Pedro Almodóvar também marca presença com Los Abrazos Rotos sua mais nova parceria com Penólope Cruz.

Outros destaques são Antichrist, um retrato sobre o luto parental de Lars Von Trier (Ondas do Destino); Inglorious Bastards de Quentin Tarantino; o retorno de Alain Resnais com Les Herbes Folles; Das weiße Band do controverso Michael Heneke; Bakjwi de Park Chan-wook (Oldboy); Taking Woodstock de Ang Lee; e a estréia de Isabel Coixet com Map of the Sounds of Tokyo.

Por fim, Coco Chanel & Igor Stravinsky fecha o festival. Espera-se que os releases de Cannes desse ano obtenham grande êxito artístico devido à qualidade dos filmes selecionados. Particularmente, aguardo ansioso pelos novos trabalhos de Campion, Almodóvar (ou seria o de Penélope Cruz?), Von Trier, Tarantino e Lee. Acredito também que Coixet deva se redimir depois do vergonhoso Fatal, mas acho que como os anteriores seu novo longa será apenas uma história açucarada feita com a intenção de comover.

O Festival ocorrerá entre os dias 13 e 24 de Maio.

domingo, abril 12, 2009

Feliz Páscoa 2



Para minha surpresa a Semana Santa, foi bastante produtiva. Acho que a casa vazia fez bem para minha consciência vadia e ela resolveu trabalhar. E desde que a oportunidade - de ter visto cinco filmes desde a última postagem - e a vontade de escrever chegaram juntas, mais uma vez, aqui estou eu.

# Simplesmente Feliz (Happy-Go-Lucky)

Embora seus títulos (original e nacional) sugiram que esse seja um filme sobre alegria, acredito que ele vá mais longe. Poppy, a protagonista, é uma professora de primário cuja principal característica é estar sempre em estado de graça. E devido ao seu curioso ânimo é sempre positiva, otimista e receptiva com as pessoas. Não importa se elas lhe sejam conhecidas, próximas, ou mesmo recíprocas, Poppy sempre as trata com entusiasmo, piadas e sorrisos. Em seu filme anterior - Vera Drake- Mike Leigh explorou uma personagem para qual o ofício ingrato de fazer abortos tinha um simbolismo político diante de uma sociedade essencialmente machista. Aqui, ele diverte o espectador com uma personagem cujo símbolo é sua felicidade a qualquer custo em tempos de egoísmo e isolamento do indivíduo. E como a primeira, inevitavelmente, deu de cara com o sistema judicial, essa aqui, inevitavelmente, encontrará alguém para quem seus modos não trarão alento. Sally Hawkins brilha no papel principal e Eddie Marsan está excepcional no papel de sua antítese (ao ponto de roubar dela o clímax da história). A atriz ganhou diversos prêmios entre os críticos de cinema dos EUA, mas infelizmente não foi indicada ao Oscar. É realmente uma pena, pois esta poderia ter sido uma boa plataforma de projeção de seu excelente trabalho. Além disso, seria um reconhecimento mais do que merecido tendo em vista sua superioridade diante de todas as concorrentes ao prêmio e sua eventual vencedora. Sendo assim,Simplesmente Feliz sem dúvidas está entre os melhores filmes concebidos no ano passado.

Trailer:



# Um Dia de Cão (Dog Day Afternoon)

Sonny Wortzik é um cara com um plano: assaltar um banco de forma rápida e discreta. Devido a uma mistura de inexperiência e ingenuidade, contudo, o que ele vai conseguir é armar um espetáculo que será acompanhado durante horas pela polícia, pela televisão e pelo povo nas ruas. Considerado um exemplo-chave do melhor cinema americano dos anos 70, o filme reúne os elementos exatos para garantir tal posto. O conteúdo da narrativa e seu substrato político, além do trabalho de Sidnay Lumet por trás da câmera são uma amostra da típica aproximação do cinema hollywood com a crueza, e marginalidade da vida de grupos específicos do universo urbano. O elenco é impecável. Encabeçado por Al Pacino (a quem a câmera segue quase em tempo integral) apoiado por um grupo de coadjuvantes que exploram ao máximo seu reduzido screentime (John Cazale, Chris Sarandon, Penelope Allen, Susan Peretz e Judith Malina, em especial) todos os atores dão um banho de talento. No mais, Um Dia de Cão é narrativa sobre a qual não se deve revelar nenhum detalhe. O gosto de assisti-la é a surpresa de descobrir as motivações de Sonny e como essas vão influenciar na condução da negociação com a polícia, seu desespero e os populares curiosos.

Cena do testamento (SPOILERZÃO):



# XXY

Filmado em cores frias, a produção argentina trata de temas delicados: o hermafroditismo sexual e a sexualidade na adolescência. Alex é cromossomialmente um garoto, porém nasceu com caracteres sexuais de ambos os sexos. Como o sexo feminino é embriologicamente anterior ao masculino, desde criança ela toma medicamentos que visam a sua "normalização", isto é, conversão em um corpo unicamente feminino. Mas nem tudo é tão simples assim, pois, Alex ainda não sabe o que mudar em seu corpo, ou mesmo se que mudar. Seu pai prefere que ela decida, sua mãe compreende o problema de forma mais ansiosa e é sua pressa que dá início a uma série de acontecimentos que orientarão Alex em busca de suas próprias respostas. O filme tem o mérito de explorar um tema inovador e curioso, mas talvez seja confuso para quem não está familiarizado com ele. Também é recheado de cenas fortes que ilustram a conflituosa relação Alex/gênero/sexo. Em termos artísticos, porém, configura apenas uma ótima película para ser utilizada em contextos pedagógicos.

Trailer:



# Batismo de Sangue

Existe no período que compreende o Regime Militar brasileiro uma grande fonte de material para todo tipo de arte que se queira produzir. Acredito que é aí que reside o berço do Brasil moderno e a justificação da forma como este produz arte. Seja porque foi a partir daí que começamos a fazer muita besteira e pouca substância, ou seja, porque são dessa época os maiores referenciais do que foi feito em teatro e música para muitos de nós. Entre todas as histórias macabras do período, talvez das interessantes para uma narrativa cinematográfica, seja a do assassinato do líder da guerrilha urbana Carlos Marighela, sua conexão com a articulação do clero de esquerda e a prisão e tortura deste. É justamente esse episódio que é esquadrinhado pelo filme do diretor Helvécio Ratton. Aquilo que poderia dar uma bela obra, todavia, esbarra nos problemas comuns das produções nacionais: edição pouco elaborada, incapacidade de melindrar com crueza dos fatos, dificuldade em fazer thrillers, e trilha sonora ruim. Triste pensar que até mesmo o episódio do falecido Linha Direta Justiça sobre o tema, tenha sido melhor concebido e desenvolvido.

Cena de um documentário sobre o Frei Tito:



# A Outra (The Other Boleyn Girl)

A história da família real britânica está cheia de acontecimentos que por sua grandeza, mistério e importância fazem do caso Charles/Lady Di/Camilla Parker Bows, tão grandes quanto uma briga qualquer estampada num tablóide. Especializado em escrever roteiros baseados em personalidades históricas, Peter Morgan, escreveu um roteiro sobre como a família Bolena se aproximou do rei Henry VIII. Como desse encontro resultou a subida da primogênita Ana ao trono, o surgimento do Angliganismo e o nascimento da lendária Elizabeth I é uma abstração literária a partir dos poucos fatos que se tem da época. Apesar de o filme ter sido malhado pela crítica e configurar também apenas uma ótima película para ser utilizada em contextos pedagógicos, ele tem seus pequenos méritos. O primeiro é a bela reconstituição visual da época através de um lindo figuro e excelente direção de arte. O segundo é o elenco encabeçado por Natalie Portman e Scarlett Johansson nos papéis principais e com as veteranas Kristin Scott Thomas e Ana Torrent excelentes em seus pequenos papéis. Para um filme que contém um implícito discurso feminista, nada mais justo do que presentear o público com ótimas atrizes.

Money scene de Ana Torrent (Catarina de Aragão):



E se eu tivesse que enlecá-los:

1º Simplesmente Feliz
2º Um Dia de Cão
3º A Outra
4º Batismo de Sangue
5º XXY

sexta-feira, abril 10, 2009

Feliz Páscoa



Depois de assistir diversos filmes, finalmente tive vontade de escrever aqui outra vez. É muito legal ter tempo e vontade de fazer as coisas. Então, por enquanto, ao menos, estou adorando a Semana Santa. Bem, como comecei assim, acho que vou continuar a fazer Top 5 aleatórios dos últimos filmes que eu vi.

# A Vida num Só Dia (Miss Pettigrew Lives for a Day)

Eu costumo dizer que se um filme tem um bom elenco, já possui uma larga chance de ser bom. Infelizmente, tal máxima não se aplica a esse aqui. Francis McDormand encarna Mrs. Pettigrew, uma governanta inglesa que perde o emprego às vésperas da Segunda Guerra Mundial. Em parte por esperteza, em parte por desespero, Mrs. Pettigrew acaba na casa da dondoca Delysia LaFosse (a "encantada" Amy Adams). E embora as duas levem vidas bem diferentes, vão descobrir que possuem algo em comum: o desejo de não cair na rua da amargura e encontrar o amor verdadeiro. Porém, enquanto a mais velha está sozinha, a mais jovem tem três namorados. O primeiro lhe deu um teto sob o qual morar e um emprego como cantora, o segundo pode torná-la uma estrela de teatro, e o terceiro é apenas um bom pianista. Toda a história se desenrola a partir desse emaranhado amoroso no qual Delysia se meteu e do qual emergirá um parceiro inesperado para Mrs. Pettigrew. O saldo final, todavia, é uma narrativa previsível, e um tanto chata. Frances McDormand e Amy Adams são ótimas atrizes com excelente timing para comédia, mas seus talentos, dessa vez, ficaram menores que o roteiro.

Lee Pace e Amy Adams cantam "If I Didn't Care":




# Maratona do Amor (Run Fatboy Run)

O showbizz não tem facilitado a vida do elenco de Friends desde do fim do programa. Courtney Cox-Arquette, Matthew Perry, Lisa Kudrow e Matt LeBlanc fracassaram em seu retorno à TV. E Jennifer Aniston perdeu marido no divórcio mais comentado da ultima década. David Schwimmer, contudo, deu uma dentro ao dirigir essa simpática comédia romântica.
Maratona abre-se com seu anti-herói, Dennis Doyle, abandonando no altar sua noiva grávida. O que o público descobre depois é que além de um covarde Dennis é um cara bastante azarado, um pai amoroso e um homem cheio de remorso. Quando sua quase esposa encontra em sua antítese um novo noivo, o gordinho Doyle resolve desafiá-lo a correr numa maratona. Embora a narrativa não seja das mais originais ou inteligentes, é difícil resistir ao charme do ator Simon Pegg e a má sorte de Doyle. O resto do elenco também é afinado (com destaque para Dylan Morgan) e direção de Schwimmer simples, porém, precisa.

Simon Pegg e Dylan Morgan:



# Gran Torino


A carreira de Clint Eastwood tem uma trajetória impressionante: de Dirty Harry a respeitável ator e diretor. Com a certeza de que fez por merecer todo o mérito, Eastwood tem se dedicado a dirigir filmes sobre a violência em todas as suas formas e conseqüências. Suas personagens são sempre fortes, melancolicas e acostumadas à solidão. Gran Torino atende a esses dois critérios. Walt Kowalski é um veterano da Guerra da Coréia, cujas convicções racistas, nacionalistas e em certo grau, antiquadas tem o afastado da família e do convívio social. Morando sozinho em um velho subúrbio, Mr. Kowalski vai encontrar sua redenção onde parecia mais impossível: uma família de imigrantes asiáticos que se muda para a casa ao lado. Como sempre, Clint Eastwood dá um banho no papel principal e acerta novamente no elenco e na direção. O filme, porém, não é lá dos melhores. Há aqui, uma vontade de criticar a violência, a guerra, e alguns valores ultrapassados. Eastwood já fez isso em filmes recentes, porém de forma mais velada e sutil. Falta a esse mais recente trabalho, um pouco de leveza e maior fluidez nas falas de suas personagens. Infelizmente, esse parece ser o último filme de Eastwood como ator. É uma pena que assim como não existem mais homens como Kowalski, não existam mais artistas como ele.

Jamie Callum canta 'Gran Torino', escrita por Clint Eastwood:



# Wall-E

Sem dúvidas um dos filmes mais controversos do ano, Wall-E foi amado por muitos e odiado igualmente. O romântico robozinho inspirado em Charles Chaplin é, de fato, uma figura cativante. E sua história tem como mérito seduzir a platéia usando quase inteiramente de linguagem não verbal. As primeiras grandes seqüências do filme se passam num futuro planeta Terra tomado pelo lixo e no qual o solitário Wall-E trabalha compactando a sujeira. Sozinho no meio da sucata, o robô aspira encontar compainha enquanto assiste Alô, Dolly! em seu iPod. Tudo muda, entretanto, com a chegada de Eva, que virá a ser o interesse amoroso do improvável herói. Recebido como uma obra prima para seus maiores entusiastas, o filme é mais uma marca do padrão de qualidade Pixar. E prova que ainda é possível conquistar platéias (até infantis) com simplicidade.

Peter Gabriel canta "Down to Earth", tema da película:




# O Lutador (The Wrestler)


Há poucos anos atrás, Menina de Ouro usou o boxe como metáfora da solidão e sua violência. Através desse esporte, encontram-se os caminhos de uma jovem mulher e um velho treinador cuja relação mimeticamente parental será um alívio para a angústia de ambos. Em O Lutador, porém, são as arenas que ratificam o isolamento de seu protagonista. Randy "The Ram" Robinson é um homem famoso pelas glórias do passado e cuja perspectiva de futuro parece-lhe aterradora. Proibido pelo seu médico de voltar aos ringues, abandonado pela filha e envolvido num complicado caso de amor, Randy, deixar escapar todas as chances que lhe aparecem. E não por má-fé. O que lhe falta é a capacidade de lidar com as lutas cotidianas, as quais não pode ensaiar, como faz antes de suas lutas. Seja pela ótima idéia de escalar Mickey Rourke (um homem cuja trajetória lembra bastante a de sua persona), seja por tornar meiga sua figura em meio a toda violência ensaiada, Darren Aronofsky merece o mérito de ter concebido uma linda obra.

Mikey Rourk (Randy) e Marisa Tomei (Pam):


E se eu tivesse que elencá-los:

1º O Lutador
2º Wall-E
3º Maratona do Amor
4º Gran Torion
5º A Vida num Só Dia