quarta-feira, agosto 06, 2008

Ligando o forno


Isso não é nada parecido com que pretendo fazer. E o que seria parecido com o que pretendo fazer? Pequenas resenhas sobre filmes. E porque eu faria isso? Primeiro porque eu gosto de filmes, segundo porque quero escrever sobre alguma coisa. Desde que saí do colégio, não escrevo uma linha sequer e sinto meu cérebro atrofiar. Portanto, para terminar essa pequena introdução: isso é só um esquente. E para esquentar, duas coisas que adoro - musicais e listas.

5 Luxos e 1 Lixo

Originalmente a coluna "5 Luxos e 1 Lixo" é publicada na revista SuperInteressante. A cada publicação, uma pessoa é escolhida para eleger os cinco 's e um num vô de alguma categoria. Já vi Luciana Melo e Cláudia Gimenez escolherem seus seriados, Carlos Saldanha seus filmes de animação e por aí vai. A coluna é simples e divertida, algumas linhas para falar de seus favoritos e outras para um não tão querido assim. Tenho certeza que a Abril tem direitos sobre ela, mas desde que eu não sou cantor, ator de TV, ou animador, irei me apropriar deles rapidinho.

Musicais são filhos diretos das óperas. Mozart começou escrevendo coisas para o povão e de lá até a sua chegada à película um longo caminho foi percorrido. Há uma espécie de mágica neles, se a vida imita a arte eu não sei, mas deve algo de errado com essa imitação. Afinal, ainda não aprendemos a sair cantando e dançando por aí. Porém não é só a cantoria e as coreografias que me encantam. Muitas vezes é a própria narrativa. Essas costumam ser leves, e não precisam de músicas se avolumando para comover a platéia (Crash, alguém?) uma vez que essas fazem parte dela. Além disso, não é raro que esse tipo de filme tenha uma caprichada direção de arte que lhes confere uma aura de cuidado e impecabilidade. Eu assisti a poucos musicais, contudo. Pior, vi pouquíssimos da era de ouro destes em Hollywood. Portanto, só estou metendo no bolo alguns mais recentes.

Indo direto ao ponto, aqui vão meus favoritos:

#1: Dançando no Escuro (Dancer in the Dark)

Essa escolha é estranha, pois quase tudo que faz desse um bom musical vai de encontro ao que disse anteriormente. Acontece que Lars Von Trier é um gênio, e "Dançando no Escuro" é um argumento infalível para essa afirmação. Líder do movimento Dogma 95, Von Trier subverteu o gênero e lhe fez uma bela homenagem.

Selma é uma imigrante que está perdendo a visão. Munida de um sonho, pagar uma cirurgia que impediria seu filho de ficar cego, e disposição para realizá-lo, ela trabalha feito uma condenada. Apesar de sua doçura mantém os entes mais queridos (inclusive o filho) a certa distância. O importante é trabalhar, sua criança precisa de olhos. Acontece que ao contrário do que os musicais apregoam, nem tudo é tão fácil. Muito menos para ela.

"Dançando no Escuro" é uma narrativa pesada, não existem coreografias bem ensaiadas, e seguindo os preceitos do Dogma, não há aqui cenários elaborados, figurinos extravagantes e produção pomposa. Todo o seu brilho vem de sua protagonista, interpretada grandiosamente por Björk. Selma é antes de tudo uma amante dos musicais. Esses são seu único deleite, seu único luxo, seu refúgio. E em sua triste história, alguns clássicos estão lá representados, seja com a presença de Joel Grey e Caterine Deneuve no elenco, ou com um verso "roubado" de "A Noviça Rebelde".

Para quem a fã de Björk, uma dica é a trilha sonora do filme. Ela interpreta todas as faixas e as escreveu em parceria com Von Trier, Mark Bell e Sjón. Thom Yorke do Radiohead participa da canção "I've Seen It All".

Minha cena favorita

#2: Moulin Rouge

Aí está um filme que dividiu platéias. Eu nunca ouvi ninguém ficar em cima do muro com relação a ele. Ou se ama ou se odeia. Entretanto, sua importância é maior do que se considera. Não só Nicole Kidman lhe deve o upgrade de sua carreira, como a nova leva de musicais hollywoodianos lhe devem sua existência. Mais do que dirigir uma história de amor cantada, Baz Luhrman deu novo gás ao gênero.

Antes de "Moulin Rouge", musicais não atraíam grande público tampouco a atenção de "críticos" (leia-se “premiadores” como a AMPAS) havia muito tempo. Mesclando releituras de canções populares com outras originais em roteiro recheado de melodrama, Luhrman conseguiu isso. O filme abriu o Festival de Cannes em 2001 e foi indicado ao Oscar de melhor filme (a última vez que um musical havia concorrido a esta estatueta fora em 1979). Além, claro, de ter arrecadado $57 milhões apenas nos Estados Unidos.

A maioria das críticas foi dirigida à Nicole Kidman - no papel da cortesã Satine -, à"poluição visual" da produção, e a melosidade das canções. Bem, o que esse pessoal chama da poluição, eu chamo de esplendor. Os cenários do filme não são nada menos que isso. Afinal, ele se passa em um cabaré e Satine é conhecida como o splarking diamond do pedaço. Quanto a Nicole Kidman, tenho certeza de que ela não é a melhor atriz que o cinema já viu, mas é muito boa sim. E realmente brilha na pele dessa personagem (embora eu concorde que essa não seja das mais complexas). As canções do filme são muito boas, tanto as originais quanto as revisitadas. O resto do elenco também é bastante afiado (e afinado). Ewan McGregor, John Leguizamo, Richard Roxburgh e especialmente Jim Broadbent são motivos a mais para dar uma conferida.

Minha cena favorita.

#3: Chicago

Meus amigos estranharão esse aqui não estar no topo do pódio. Eu vou explicar por que. "Chicago" é um ótimo filme, o meu favorito de todos os tempos, mesmo. Talvez eu só esteja um pouco cansado dele de tanto assisti-lo e ouvir as suas canções. A questão é que "Moulin Rouge" e "Dançando no Escuro" são mais criativos e bem elaborados em minha humilde opinião.

Adaptado de uma peça da Brodway, por sua vez baseada em um relato jornalístico. O filme conta a epopéia de Roxie para chegar ao sucesso. A estória envolve crimes, ganância, corrupção e mentira. As personagens são altamente cativantes justamente por não valerem nada. A única exceção é Amos, marido de Roxie, que conquista por ser um coitadinho.

Assim como "Moulin Rouge", a direção de arte aqui é impecável. Como em "Dançando no Escuro" os números de dança e música só existem na imaginação da protagonista, e não porque na "vida real" as pessoas cantam e dançam ao invés de falar. Então, os cenários simulam não só um espaço físico, mas um espaço físico que vira um teatro a um piscar de olhos de Roxie. A ação se passa nos anos 20 na cidade que empresta seu nome ao título. Eu não saco de jazz, porém tenho quase certeza que todas as canções são nesse ritmo.

O problema com "Chicago" é Roxie. É preciso ver o filme mais de uma vez para prestar atenção nela. Renée Zellweger é uma boa atriz e fez um ótimo trabalho nesse papel. Entretanto, ela divide quase todo seu screentime com Catherine Zeta-Jones (Velma). E essa mulher é um furacão. Ela canta com um vozeirão e dança com umas pernas que parecem esculpidas. Após ver o filme pela primeira vez é difícil sacar que ele foi escrito para ser a história de Roxie, contada por Roxie. Afinal, só se pensa em Velma.

Outro problema é Richard Gere. Ele é bonitão como o papel exige, mas não tem aquela cara e postura de O cara que a personagem precisa. Como tudo correu perfeitamente? Eu não faço a menor idéia. Mas tenho a impressão que o grande trunfo do filme é sua maravilhosa edição.

Minha cena favorita.

#4: Encantada

Certo, esse aqui eu só conheci a dois dias atrás e só tem quatro canções em meio aos diálogos. Mas eu bato o pé: ele é muito bom. Giselle, a protagonista, é a (She)rek do bem. Debochado, romântico e divertido, o filme brinca com os filmes de contos-de-fada de uma forma refinada e de certa forma tributária (tenho certeza que essa palavra foi uma escolha infeliz, mas talvez você entenda dando um saque aqui).

Todo gostar é construído. Não existe um gostar gratuito. Acabei gostando de musicais por causa dos filmes da Disney. "A Bela e a Fera", "A Pequena Sereia" e "A Bela Adormecida" eram filmes que eu gostava muito na infância (o que explica outros gostares também). E todos eles são mais ou menos parecidos: uma princesa, um príncipe, uma bruxa, umas músicas e uma promessa de amor eterno. Metaliguisticamente (esse termo existe?) "Encantada" trás para o "mundo real" esses lugares comuns e os trata de forma que fiquem entre o pueril e o adulto.

Giselle é uma "desenho" que sonha em encontrar um príncipe com o qual dividirá um beijo de amor sincero. Acontece que seu príncipe tem uma madrasta que não quer o ver casado. Então, a nossa heroína é atirada pela bruxa do universo dos contos-de-fada para Nova York. É o choque "cultural" causado pelas diferenças entre os dois mundos que dá a tônica da narrativa.

Amy Adams brilha no papel principal. Giselle age como se estivesse no mundo do faz-de-conta. Suas ações são livres de maldades, segundas intenções e carregadas de ingenuidade, espontaneidade e romantismo. Mérito de sua interprete balizar todos os seus comportamentos improváveis de forma tão contundente e simpática. Em todos os momentos em que ela está na tela, seus coadjuvantes são ofuscados, e quando se ausenta faz falta (mesmo que James Marsden esteja ótimo na pele do príncipe Edward).

Recomendado para jovens garotinhas e pessoas em geral que acham que príncipes e princesas podem ser tipos do mundo real. Como uma namorada insegura, sedenta de romantismo. Ou um pai solteiro.

Minha cena favorita.

#5: Hairspray

Eu realmente não tinha um #5 (desde que estou falando de musicais recentes e pelo menos três empatam aqui com o escolhido), então isso é que chamam de filler nomination. "Hairspray" ganhou por um nariz de seus concorrentes por ser uma história realmente divertida.

Nos anos 60, uma garota acima do peso sonha em participar de seu programa de TV favorito. Nele estrelam alguns adolescentes bonitos que dançam ao som da música da época. Entretanto, ela descobre que como sua mãe diz tudo é mais difícil para garotas cheinhas como ela. Mas não somente. Logo, ela junta-se aos negros na luta por direitos e respeito.

O filme não tem uma grande produção. Seus cenários são simples e as canções não muito "chicletes". Seu grande mérito é seu elenco: Nikki Blonsky (encantadora), John Travolta, Crhistopher Walken, Queen Latifah, Amanda Bynes, Zac Efron,Queen Latifah e Michelle Pfeiffer são os donos dos papéis principais. As coreografias por sua vez, são bastante elaboradas (embora não muito complexas) e são o destaque das cenas musicadas.

Minha cena favorita.

Lixo:

Eu ia dizer "8 Mulheres" que, por sinal, é o único musical não anglófono que já vi. Desisti porque tem muito tempo que vi e não sei o que falar. Então, vou de "Sweeney Todd" que é muito chato também.

O tal filme conta a história de um barbeiro sedento de vingança. Sua esposa e sua filha lhe foram tiradas por um juiz amoral, e ele exilado. Uma vez de volta a Londres, seu maior desejo é passar geral a navalha. Sua parceira no crime é dona de uma loja de tortas de carne e sua matéria prima são as vítimas do senhor Todd.

Como é recorrente, o diretor Tim Burton escalou Johnny Deep e Helena Boham Carter para os papéis principais. E optou por uma atmosfera obscura. Nenhum dos dois é bom cantando, as músicas são chatas, e as personagens nada cativantes. Tudo o que se deseja é o fim do filme para acabar com a tortura aos ouvidos. A direção de arte e figurino, como de praxe, são muito bons, porém.

Uma cena melhorzinha.

quinta-feira, março 06, 2008

Meu deus. Tinha muito tempo que eu não passava por aqui. Na verdade, esse blog foi uma idéia que nunca decolou, veio para substituir outro que eu tinha deletado e acabou ficando aí sem uma única postagem.

Quem sabe eu me animo e acabo escrevendo umas bobagens de novo...