quinta-feira, fevereiro 05, 2009

Cabeça de dinossauro


É realmente estranho que eu pense tanto e sinta meus pensamentos pulsarem dentro de meu crânio, mas me sinta incapaz de repassá-los de alguma forma útil, simples e divertida. Estou realmente entediado hoje, ninguém atende às minhas ligações e perdi o horário de uma consulta médica porque dormi demais. Então eu vou apenas falar de alguns filmes que vi essa semana.

# segunda feira: O Fabuloso Destino de Amélie Poulain

Eu me lembro de ter assistido esse filme a 5 anos atrás e tê-lo achado fantástico. E não apenas isso: divertido, tocante, romântico e colorido. Suponho que atualmente apenas o último adjetivo se encaixe. A personagem título é uma garçonete que descobre o quão legal é ajudar as pessoas e é isso que passa a fazer: meter-se na vida de seus conhecidos para ensinar-lhe lições, ou dar-lhes pequenas alegrias. Como se já não bastasse passar-se em Paris, o filme possui lindas fotografia e direção de arte. A trilha sonora é também ótima e Audrey Tautou (que dá vida a personagem título) é encantadora. O grande problema da minha revisita a película é que dessa vez tudo me pareceu exagerado e cansativo (adicionando-se aí, claro, a narração veloz e em terceira pessoa). Porém, não é uma coincidência que isso tenha acontecido depois que eu assisti "Eterno Amor", o segundo projeto de Tautou e Jean-Pierre Jeunet, que dirigiu "Amélie", e "Pushing Daisies", seriado americano que copia a atmosfera e estilo de narração desse filme. Ambos são ainda mais exagerados, cansativos e enjoados.

Tenha uma amostra você mesmo:


# terça feira: Austrália

Dirigido por Baz Lurhmann, um cara que eu realmente admiro, "Austrália", foi esperado durante anos por mim e outros vários fãs. Estrelado por Nicole Kidman (Lady Ashley) e Hugh Jackman (The Drover), era esperado que o filme fosse o "... E o Vento Levou" do Pacífico. E de fato, tinha tudo para sê-lo: incrível e impecável produção, conflitos raciais, uma mocinha mandona e um galã relutante. Entretanto, Lady Ashley e The Drover jamais poderiam ser tão fascinantes quanto Scarllet O'Hara e Rhett Butler quando o país onde vivem é a personagem principal da história. "Austrália" é narrado em terceira pessoa por um garotinho mestiço. E é cheio de passagens ufanistas e levemente sem lógica, às quais dever-se-ia fazer vista grossa já que fazem parte da mágica largamente evocada pelo pequeno narrador meio- aborígene! Infelizmente, para Lurhmann o seu projeto naufragou - não obteve grande êxito comercial, não cativou a crítica e não recebeu as milhões de indicações ao Oscar que se esperava. Eu culpo o tempo e Nicole Kidman, mas é claro que eles não fizeram de propósito. Há sete anos, "Moulin Rouge" renovou e ressuscitou os musicais no cinema, fez de Kidman uma real estrela vencedora do Oscar (mesmo que ela tenha recebido o seu por "As Horas") e de Lurhmann um diretor respeitado. Nesse espaço de tempo, porém, enquanto ele trabalhava em seu filme, ela tornou-se a atriz menos lucrativa de Hollywood atuando em filmes às vezes muito ruins ("Reencarnação", "A Feiticeira"), outras muito experimentais ("Dogville", "A Pele"), acumulando apenas um relativo sucesso com "Could Mountain", outro épico que deu errado. Daí foi um pulo para que todos odiassem sua mais recente película apesar dessa ser muito boa e de sua ótima atuação.

Ouça também By the Boab Tree:



# quarta feira:
O Curioso Caso de Benjamin Button

Sempre desconfie de um filme feito para ser "aquele que vai premiar aquele diretor tão sub-reconhecido". Desconfie, também, daqueles que são estrelados por Brad Pitt. "Benjamin Button", ao contrário do que seu título anuncia, não possui nada de muito curioso. É um filme quase óbvio que se delonga em contar uma história de amor improvável, que, porém se realiza. A personagem título é um garotinho que nasce muito velho e vai rejuvenescendo com o passar dos anos. Aos sete anos, ele conhece aquela que seria seu grande amor: Daisy. Mas para seu azar, o relógio biológico dela corre no sentido usual. São necessários alguns anos para que os dois possam ser quarentões e "encontrar-se no meio". Uma vez que isto ocorre, a narração passa a correr em fast forward a fim de que o desenlace seja contado nos 40 minutos finais da exibição. Seria muito mais interessante investigar o que realmente há de curioso em nascer velho e morrer jovem. A juventude poderia ter deslumbrado Button, como a velhice poderia tê-lo deprimido ou vice-versa, não importando como explorar o tema, apenas dever-se-ia. Não sendo injusto, durante a primeira, e mais divertida parte da projeção é isso que ocorre. "Benjamin Button" acabou por realmente ser o filme que deu ao diretor David Fincher uma indicação ao Oscar. Brad Pitt também e, por um desempenho tão expressivo quanto um boi. Disseram que "Austrália" é um filme, caro, longo, vazio e chato. Mas acho que isso se aplica melhor aqui. De todo, se salva apenas Cate Blanchette que, mais uma vez, deu ao público outra razão para achá-la ótima.

Cate Blanchette em cena:


# quinta feira: As Patricinhas de Bervely Hills e Meninas Malvadas

Eu nunca vou entender o porque mas o segundo grau é uma época realmente difícil para os americanos, a menos que você seja linda e popular. Um dos maiores sucessos dos anos 90, "As Patricinhas" mistura Emma, de Jane Austen com high school. Cher Horowitz é uma garota rica e supostamente alienada à moda. Suas únicas preocupações são: vestir-se bem, passar no teste de direção, e formar casais. Alicia Silverstone dá vida à personagem com graça e empatia. É difícil não torcer para que ela encontre seu próprio namorado. E aí um velho clichê do gênero emerge: o amor de sua vida já estava ao seu lado desde o início enquanto ela perdia tempo em odiá-lo. O mérito do filme, entretanto é ser absolutamente divertido e original abusando de clichês e doçura, quando poderia ser mais fácil desbancar para o óbvio ou para mordacidade (algo que "Legalmente Loira" repetiria anos mais tarde). Não é a toa que durante algum tempo todas as garotas queriam vestir-se como Silverstone. Ao contrário deste, "Meninas Malvadas" prefere o caminho da mordacidade e o percorre de forma deliciosa. Cady (Lindsay Lohan) cresceu na África onde foi educada por seus pais, quando regressa aos Estados Unidos para terminar seus estudos. Seu desconhecimento de como ser uma adolescente no "mundo real" acaba envolvendo-a numa trama que opõe seus interesses e o de outros dois grupos: as plastic girls e seus colegas não populares. O que a personagem vai descobrir é que não é fácil ser popular, muito menos controlar todos ao seu redor. Mas para mim o mais interessante não é a lição de moral da história e sim as piadas durante seu desenrolar. O elenco realmente brilha, enquanto "As Patricinhas" é o show de Silverstone, aqui todos têm seu momento. Porém, sem dúvidas Rachel McAdams, Amanda Seyfried e Lacey Chabert se destacam nos papéis das plastic girls.

Em tempo: dizem que ambos os filmes terão continuações a serem filmadas em 2009, alguém proteja os fãs da decepção.

Clueless Theatrical Trailer:


Cady conhece as plastic:


... E se eu tivesse que ordená-los:

1º Meninas Malvadas
2º As Patricinhas de Bervely Hills
3º Austrália
4º O Fabuloso Destino de Amélie Poulain
5º O Curioso Caso de Benjamin Button

É, talvez eu seja fútil.