domingo, agosto 09, 2009

Da cidade dos cassinos à capital do romantismo


Leo DiCaprio e Claire Daines na premiere de Romeu + Julieta.


# Despedida em Las Vegas

Antes de estrelar filmes de ação de gosto duvidoso, Nicolas Cage era famoso por seu desempenho em dramas açucarados e comédias românticas. Despedida em Las Vegas (Leaving Las Vegas, Estados Unidos, 1995), entretanto deu-lhe o status de ator sério que ele fez questão de jogar fora em seus papéis seguintes.

Cage encarna Ben Sanderson, um roterista que após o divórcio viaja à capital dos cassinos com uma idéia fixa: "drink myself up to death". Entregue ao álcool, Ben vacila, delira e treme numa escalada de anulação que expõe a sua tristeza e desistência da vida. O único alívio ao qual se permite é a companhia de Sera. Uma prostituta carente e calejada que o acolhe sem julgamentos, mas com doses de romantismo.

Cage brilha nos melhores momentos de seu personagem. Infelizmente, para ele e para o público, estes estão concentrados na primeira metade do filme, quando Ben, antes de tornar-se um zumbi alcoolizado, destila sobre os outros toda sua raiva e angústia. A partir daí, só o que se vê, é um homem fragilizado afogando-se na bebida para vingar-se da sorte.

Elisabeth Shue (que interpreta Sera), cresce à medida que Cage se apaga. É difícil não se sensibilizar com uma figura que parece ser concebida para desconstruir o esteriótipo glamouroso de Julia Roberts em Uma Linda Mulher. Sozinha, cansada, violentada, agredida, Sera não mede esforços para conectar-se com Ben porque sabe que este é o mais próximo que ela terá de um príncipe encantado. E nem mesmo o fato dele renegar tal papel é o suficiente para que ela pare de tentar.

Sera e Ben estão, cada um a sua maneira, condenados à solidão. Ele escolheu a morte lenta e sofrível, ela a autodegradação. Assistí-los é compartilhar de sua miséria e derrota.

O grande destaque do filme, porém, é sem dúvida sua trilha sonora: uma compilação de jazz compostos pelo diretor Mike Figgs e famosas baladas cantadas, em sua maioria, por Sting. A cena de Elisabeth Shue seduzindo Nicolas Cage tendo "Come Rain Or Come Shine" ao fundo é memorável.

A cena:



# RocknRolla

Depois do fracasso de Destino Insólito (Swept Away, estrelando Madonna), Guy Richie decidiu voltar às origens. Neste filme, atores quase anônimos se juntam a outros mais famosos numa trama recheada de roubos sucessivos, violência estilizada, vilões sádicos com inesperados mascostes assassinos e mafiosos estranjeiros. Soa familiar não?

Pois é, RocknRolla (RocknRolla, Reino Unido, 2008) tem todos os elementos que consagram os projetos anteriores do diretor: Snatch - Porcos e Diamentes e Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes. Dessa vez, contudo, relações amorosas "incomuns" são adicionadas à mistura. Drogas e algumas cenas de ação completam o quadro.

Como (quase) sempre, Richie conseguiu amarrar tais elementos com um fino humor negro e esse é seu grande mérito. O argumento aqui é que apesar das personagens serem corruptas e carregarem, cada uma, sua parcela de culpa, existe certo código ético que elas compartilham. Uma vez que este se quebre, ocorre punição.

Apesar de sua regularidade, RocknRolla peca pela sobreposição de focos narrativos que se esvaziam de forma insatisfatória e simplista. Vale para celebrar o renascimento artístico de Richie e o fim de seu casamento com Madonna. Certamente não lhe cabia dirigir romances em cenários paradisíacos, nem a ela posar de lady britânica. O elenco, sensacional, também merece nota.

Trailer:



# Cassino Royale

Ao longo dos anos, o agente James Bond foi encarnado pelos mais belos atores ingleses (Sean Connery, Roger Moore e Pierce Brosnan são exemplos). Cada um deles, de certo modo, imprimiu uma marca sobre o personagem: mais romântico, mais violento ou mais bon-vivant. Não importanto, suas características periféricas, Bond ainda sobrevive como protótipo de hombridade (ou seria de misoginia?).

Oficialmente existem 22 filmes da franquia e 7 atores deram vida ao detetive. Tais filmes referem-se àqueles produzidos pela EON Productions. Contudo, devido a confusões quanto os direitos autorais sobre a obra de Ian Fleming (escritor que criou o agente secreto) e o nome "James Bond", foram realizados outros dois filmes sobre 007. Cassino Royale (Casino Royale, Reino Unido/Estados Unidos, 1967) foi o primeiro deles.

Baseada na primeira obra de Fleming protagonizada por Bond, a película é um grande festa do humor psicodélico e debochado do cinema americano dos anos 60. Dirigida por seis diretores diferentes, a história segue James Bond (interpretado por David Niven, primeira escolha de Fleming para o papel) na tentiva de descobrir o reponsável pela morte diversos agentes secretos ao redor do mundo. Ao saber que também está na mira do inimigo, o detetive designa seis companheiros com a alcunha de 007: Evelyn Tremble (Peter Sellers), Vesper Lynd (Ursula Andress), Miss Moneypenny (Barbara Bouchet), Mata Bond (Joanna Pettet), "Coop" (Terence Cooper) e "A Detonadora" (Daliah Lavi). A partir daí, todos serão responsáveis por descobrir quem está por trás da operação e como escapar da arma secreta do inimigo: lindas mulheres que seduzem os agentes bonitões.

Juntam-se ao elenco: Orson Welles, Woody Allen, Deborah Kerr, Jacqueline Bisset, e John Huston, William Holden (alguns em pequenas participações).

Apesar do ritmo confuso (causado principalmente pelo fato de Peter Sellers ter abandonado as filmagens) e do visual exagerado, Cassino Royale é uma obra que merece ser vista. Pois, é muito raro ter a oportunidade de desfrutar uma obra concebida, de fato, por um grupo tão interessante de artistas.

Trailer:




# Última Parada 174


No dia 12 de junho de 2000, o jovem Sandro do Nascimento manteve cerca de 10 pessoas como refém dentro de um ônibus. O episódio ocorreu na cidade do Rio de Janeiro, mas foi assistido por todo o país através da televisão. A cobertura irresponsável do evento, decerto contribuiu para seu final trágico com a morte do seqüestrador e um de seus reféns. De filiação e origem confusas, o passado do “personagem” foi investigado a fundo no documentário Ônibus 174, no qual o roteiro deste filme se baseia.

Sandro nasceu na favela onde sua mãe foi assassinada a facadas, cresceu nas ruas onde conheceu as drogas, escapou da chacina da Candelária e entrou para o crime. Passou também pela FEBEM e morreu asfixiado dentro de um camburão da polícia. Última Parada 174 (Brasil, 2008) se propõe a contar tais fatos, numa perspectiva que vem se tornando comum no cinema brasileiro: se um jovem ingressa no crime a culpa é dos eventos traumáticos que sofreu durante a infância. Neste caso, vale apelar para a construção de uma personagem que delira e possui traços de personalidade obsessiva.

Tecnicamente, o filme é muito bom, fugindo, inclusive, da velha mania do cinema nacional de copiar a fotografia de televisão. Os atores são ótimos, especialmente os mais jovens Michel Gomes e Marcello Melo Junior que infelizmente correm o risco de afundar no ostracismo como quase todo o elenco de Cidade de Deus.

Evidentemente, a história do indivíduo tem um peso muito forte em seu envolvimento com o crime. Mas esta, seguramente, não é a única razão pela qual a deliqüência existe. O filme de Bruno Barreto, porém, não apenas ignora isto como trabalha em favor da outra idéia. O que o torna levemente repetitivo e óbvio.

Trailer:



# Romeu + Julieta

A tragédia dos amantes de Verona deve ser uma das mais conhecidas da literatura ocidental: dois jovens de famílias inimigas apaixonam-se e acabam suicidando-se em nome de seu amor rechaçado por seus pais.

Julieta Capuleto e Romeu Montecchio são parte do imaginário de muitos, mas poucos são aqueles que leram a obra de William Shakespeare. Adaptada nas mais diversas formas para o cinema, teatro e mesmo literatura, as palavas do escritor não foram tão assimiladas quanto suas personagens.

Grande artista que é, o diretor Baz Luhrmann assumiu o desafio de atualizar a obra para os anos 90 sem fazê-lo pelo caminho mais óbvio: o da linguagem. E o fez muito bem. Sob sua coordenação Verona tornou-se uma metrópole urbana onde os Capuleto e os Montecchio se enfrentam usando armas de fogo e escapam em carrões. Referências a sexo e drogas também estão presentes.

O visual exagerado beirando ao kitsch. As roupas das personagens, bem como os cabelos de algumas, são coloridas e também são os cenários, os carros e as maquiagens. Até mesmo o papel do frei ganhou tatuagens, e somente a ama parece mais discreta do que poderia ser (o que faz pensar que Franco Zeffirelli acertou em algo na sua versão de 1968). Para completar, Luhrmann escalou nos papeis principais a it girl e o it boy do momento: Claire Daines e Leonardo DiCaprio. John Leguizamo e Harold Perrineau - infelizmente futuras estrelas de televisão- animaram Tebaldo e Mercucio respectivamente. Radiohead e Garbage (dentre outros artistas) tomam parte na trilha sonora.

Misturando cultura pop e Shakespeare, Lurhmann estabeleceu seu nome entre os grandes de seu tempo e inovou no insosso campo dos filmes para adolescentes. Se você não viu Romeu + Julieta (Romeo + Juliet, Estados Unidos, 1996) antes de seus 18 anos, corra porque talvez ainda haja tempo de se apaixonar pelos clássicos.

#1 Crush (Garbage):


Top 5 filmes metropolitanos:

1º Romeu + Julieta
2º RocknRolla
3º Cassino Royale
4º Despedida em Las Vegas
5º Última Parada Ônibus 174