domingo, maio 17, 2009

Meio de Maio

Lizza Minnelli e Bob Fosse no set de Cabaret (1972).

#Crepúsculo dos Deuses (Sunset Blvd.)



Norma Desmond (Gloria Swanson) tem uma teoria sobre si: “eu sou grande, os filmes que ficaram menores”. Veterana do cinema mudo, a atriz sonha com a volta de seus dias de glória. Por sua vez, John Gillis (William Holden) acha que “a audiência foi embora há vinte anos”. Roterista falido, o bon vivant será tragado pela atmosfera delirante de Desmond seduzido pela promessa de dinheiro fácil.


Grande clássico do cinema americano, Crepúsculo dos Deuses é uma crítica veemente ao culto às estrelas e como este está intrinsecamente ligado à valorização da beleza e da juventude. Desmond é uma figura excêntrica, mas, sobretudo alguém acostumada aos caprichos e vícios da fama. O que ela não percebe é que não foi o advento do som o responsável pelo seu ostracismo e sim seu próprio envelhecimento. Ou de toda uma geração que deu lugar a uma nova. Sua vontade de reviver o passado e conquistar o futuro selará o seu trágico destino e de todos ao seu redor.


Billy Wilder consagrou-se pelas suas divertidas comédias, mas sua obra magna sempre será esse poderoso drama. Pois muito mais do que isso, Crepúsculo é um triste e franco adeus àqueles que não tiveram a chance de se despedir das telas. Erich Von Stroheim e William Holden estão ótimos em seus papéis, todavia é da soberba Glória Swason o grande show. A sua atuação tornou-se antológica e sua line “we had faces” definidora das atrizes de sua geração.


Curiosamente, no mesmo ano foi lançado outro filme sobre uma grande atriz lidando com seu envelhecimento e a perda do sucesso para concorrentes mais jovens – A Malvada, estralando Bette Davis. Na cerimônia do Oscar de 1950, Swason (51 anos) e Davis (42) eram consideradas favoritas ao prêmio de melhor atriz. Ambas foram derrotadas (num dos maiores upsets da história do prêmio) por Judy Holliday (29).



Anos mais tarde, Gleen Close encarnou Norma Desmond na Broadway. Ano passado ao vencer o Emmy de melhor atriz, esta comemorou ter sido indicada junto a outras cinco companheiras também na meia idade. No Oscar, contudo, o elemento baby face foi novamente determinante na escolha das indicadas e da atual vencedora da categoria. Cinqüenta anos depois estaria Hollywood ainda segregando suas atrizes maduras? Claro que sim. O que talvez explique o porquê de tantas estarem migrando para a TV (juntam-se a Close nomes como Sally Field, Jessica Lange, Sigourney Weaver e Holly Hunter) e apenas Meryl Streep abocanhe todos os papéis interessantes para mulheres dessa idade.


Cena Final (Delírio de Norma Desmond):





# Se Eu Fosse Você



Tony Ramos e Glória Pires são dois dos mais conhecidos atores da TV brasileira. Neste filme, eles interpretam um casal que após uma briga acorda com os corpos trocados. Assim, Cláudio passa a habitar o corpo de Helena enquanto ela fica presa ao dele. Os cônjuges, então, terão que substituir um ao outro em suas atividades rotineiras o que irá ocasionar muito estranhamento, graça e mudanças.



Além do argumento nem um pouco orginal, Se Eu Fosse Você apela para todos os clichês possíveis da categorização de homem, mulher e de casamento. Seu elenco é recheado de atores "globais", muitos em participações que não agregam nenhum valor à produção. Esse é um traço comum da Globo Filmes que parece entender suas produções como extensão do núcleo de teledramaturgia da emissora. Surpreende, porém, pensar que o saldo do filme é positivo.



O diretor Daniel Filho declarou certa vez que sua maior inspiração são as comédias hollywoodianas da década de 30 (a exemplo de Levada da Breca). E seu maior trunfo foi escalar dois atores cujo talento e química não faz feio diante de Katharine Hepburn e Spencer Tracy. O desempenho de Glória Pires e especialmente de Tony Ramos ilustra exatamente o porque de seus reconhecimentos e fazem da película uma boa opção para quem dar algumas risadas.


Trailer:


# Trainspotting



Lançado em 1996, Trainspotting colocou Ewan McGregor e Danny Boyle no mapa. A película, que ganhou status cult ao longo dos anos, retrato o cotidiano de um grupo de jovens escoceses viciados em heroína. Para Renton (McGregor) e seus amigos, a droga, apesar de seus efeitos destrutivos, é a única opção diante do torpor e uma existência sem propósito.



Visualmente, o filme é bastante criativo mesclando cenas que vão do grotesco ao surrealista a uma edição rápida que valoriza a narração em primeira pessoa. Seu discurso, porém, é esvaziado pela progressão dos acontecimentos. Primeiro há um momento de cinismo sobreposto pouco a pouco por uma idéia de redenção atrelada a conscientização advinda do envelhecimento. Tal dado, entretanto, parece não afetar o apelo da obra sobre os adolescentes. O que diz muito sobre ambos.


O elenco conta ainda com Kelly Mcdonald (Onde Os Fracos Não Tem Vez) e Kevin McKidd (do seriado Grey’s Anatomy). Vale apena ser conferido pelos jovens talentos e para lembrar de quando Boyle dirigia histórias obscuras não suavizadas por romances como Quem Quer Ser um Milionário?.


The Toilette Scene:




# Cabaret



Na frágil república de Weimar, o destino de cinco personagens se cruzam através do Kit Kat Club onde o Mestre de Cerimônias apresenta seus shows. Sally Bows é uma cantora americana cujo sonho é ser uma grande atriz. Na busca desse objetivo, e também por ter uma queda pelo dinheiro, ela não exita em dormir com aqueles que possam lhe fornecer algum benefício. Brian Roberts é um escritor inglês que viaja a Alemanha para cursar doutorado. Por coincidência, acaba na pensão de Sally com quem se envolve sexual e afetivamente. Quando ela conhece o rico Maximilian von Heune este torna-se outro elemento da relação. Paralelo a esse estranho romance, corre o mais convencional desenlace entre Fritz Wendel e Natalia Landauer. Ele cristão e pobre, ela judia e rica.


A sua maneira, cada uma dessas personagens é um elemento indesejado pelo já em ascenção Nazismo. Na primeira cena é possível ver um oficial do partido na platéia do clube e ao longo da narrativa o fortalecimento de seus ideais e de seu contigente apenas cresce. Porém, todos contemplam tais acontecimentos com a certeza de que são passageiros. No palco do Kit Kat Club, o Mestre de Cerimônias expõe de forma transgressora os valores da sociedade de Weimar debochando, inclusive, de seu pseudo puritanismo sexual e anti-semitismo. Fora dele, os dilemas das outras personagens explicitam sua condição de outsiders. Mas apenas Brian parece perceber os nazistas como ameaça eminente para um tempo que será estrangulado.


Baseado em uma obra da Broadway, Cabaret é muito mais um filme com canções do que um musical. A exceção de "Tomorrow Belongs To Me" todos os números ocorrem dentro do clube e apenas uma das personagens centrais - Sally - também se apresenta neste palco. Contudo, nem todo o libreto da peça foi utilizado. Várias de suas canções tornaram-se melodias executadas como música de fundo. E outras foram adicionadas ("Tomorrow Belongs To Me", "Mein Herr", "Money, Money", "Maybe This Time"). Futuramente estas foram acrescentadas em montagens da Broadway, incluindo o famoso revival de 1998 dirigido por Sam Mendes e coreografado por Rob Marshall. Desta forma, as canções não contam a história, apenas ilustram seus desdobramentos.


Aliar essa proposta a uma edição arrojada para a época foi a grande sacada de Bob Fosse. O diretor conseguiu, ainda, conquistar o público com personagens de condutas desviantes. Fora isso, é difícil resistir aos grandes olhos de Liza Minnelli (Sally Bowles) e a sua maravilhosa voz. E Joel Grey defende com primor o papel de Mestre de Cerimônias. Cabaret, enfim, fez de Fosse - famoso coreógrafo e diretor de teatro - uma lenda também no cinema e fácil saber porque.


Maybe This Time:



# Moulin Rouge


No bordel de Harold Zidler, boêmios, prostitutas, artistas e figurões celebram a verdade, a beleza, a beleza, e, sobretudo o amor, regados a absinto. Tais ideais, porém, estão subjugados ao poder do dinheiro e será o embate dessas duas forças a força propulsora desse grande romance.


A cortesã Satine sonha em tornar-se a próxima Sarah Bernhardt e conquistar os palcos da Europa. Sua chance chega quando seu rufião a oferece como presente ao Duque. Em troca, este daria seu patrocínio a uma peça que deveria ser montada no cabaré. Entretanto, quem sobe ao quarto dela não é o rico aristocrata e sim o pobre escritor Christian. Os dois se apaixonam e à medida que a peça vai sendo criada, cresce seu amor, o ciúme do Duque e pressões de Zidler.


Um jovem escritor inglês, uma cantora de cabaret que sonha em ser uma estrela, um rico membro da aristocracia e um mestre de cerimônias alemão já são elementos mais que suficientes para perceber que Moulin Rouge possui bastante em comum com Cabaret. Porém seria incorrer num erro enorme esquecer suas diferenças. Enquanto o segundo é uma obra transgressora, o outro é um mergulho deslavado no romantismo. De tal modo, que não existe espaço na cama de Satine (ou de Christian) para outros parceiros. E o ambiente acompanha o estado de espírito dos amantes, sempre prontos para lutar pelo seu relacionamento.


Tecnicamente a produção é impecável: direção de arte, figurinos, maquiagem e fotografias exuberantes e muito bonitas. A edição é excepcional bem como o trabalho de Lurham por trás das câmeras. Nicole Kidman, Ewan McGregor, Jim Broadbent, John Leguizamo e Richard Roxburgh formam um time afinado e cativante.


As canções são um deleite a parte. Muitas são medleys de sucessos como “Satisfaction”, “Your Song”, “Heroes” e “Material Girl”. Algumas são releituras a exemplo de “Nature Boy” e “Like a Virgin”. E por fim, outras foram especialmente escritas para o filme como “Onde Day I’ll Fly Away” interpretada por Nicole Kidman. Curiosamente, a mais famosa, “Come What May” fora originalmente escrita para Romeu + Julieta e por isso não pode ser indicada ao Oscar. O mesmo aconteceu com “Maybe This Time” de Cabaret que fora escrita anos antes do filme ser produzido.


Dirigido por Baz Lurhman, o filme foi responsável por reviver o gênero musical. Cujos maiores expoentes nos anos 80 e 90 foram obras pálidas ou controversas, apesar de comercialmente rentáveis, como Dirty Dancing e Evita. Por seu primor técnico, e envolvente atmosfera Moulin Rouge conquistou milhares de fãs ao redor do mundo além de ter dado a Nicole Kidman o rótulo de boa atriz. E será difícil que não se torne um clássico do cinema devido ao impacto de seu lançamento. Tal posto é muito mais que merecido para uma obra muito bem concebida, divertida e emocionante.


Come What May:



E seu eu tivesse que ranqueá-los:


1º Moulin Rouge
2º Cabaret
3º Crespúsculo dos Deuses
4º Trainspotting
5º Se Eu Fosse Você