quarta-feira, setembro 02, 2009

Cantigas do Adolescer (ou Quase Isso).

Cena de Valsa com Bashir

# Valsa com Bashir

Entre as décadas de 70 e 90, o Líbano conheceu os terrores de uma guerra civil intermediada e financiada por países vizinhos. O massacre de Sabra e Shatila refere-se ao assassinado em massa de palestinos e libaneses xiitas pela milícia católica deste país. Valsa com Bashir (Vals Im Bashir, Israel, 2008 ), um dos filmes mais comentados - e premiados - do ano anterior, trata de tais eventos a partir das memórias de um ex-soldado israelense.

Ari Folmam tinha apenas 19 anos quando juntou-se às fileiras do exército israelense. Apesar da pouca idade, o jovem acabou lutando em território libanês quando este foi invadido por Israel, em 1982. Mesmo tendo vivienciado a guerra, ele esqueceu grande parte de seus eventos. Tentado preencher as lacunas de sua memória, ele irá atrás de seus companheiros de farda e recolher seus depoimentos.

Embora algumas passagens sejam ficcionais, muitos das "personagens" de Bashir são pessoas de verdade dividindo suas experiências. O próprio Folman é um exemplo. E além de animar sua personagem, ele ainda dirigiu, escreveu e produziu o filme, fazendo deste uma obra extremamente autoral. Mesclando a linguagem documental à uma narrativa não linear expressa em cores vibrantes e animação, o artista encontrou uma bela forma de exorcizar os demônios da consciência do homem.

Em Bashir, realidade, sonho, esquecimento e denúncia misturam-se o tempo todo. O que o autor divide com o público, afinal, acaba sendo a contradição da busca pelos fatos. Ainda que ele possa evocar imagens, necessariamente algo se perdeu. Provavelmente, na matença horrenda de inocentes, ou em fatos anteriores ligado à vicissitudes da combate. Talvez o soldado tenha recalcado lembranças em nome de sua sobrevivência, o que tem acontecido analogamente com Israel e seu histórico infindo de conflitos armados. Talvez para ambos, entretanto, talvez este seja o momento de começar a lembrar.

Trailer (UK):




# Orquestra dos Meninos

No agreste pernambucano, o músico Mozart Vieira tem um sonho: construir uma orquestra com crianças que trabalhavam no campo. Sua determinação e resiliência diante das tentações da tirania política local, fará com que ele e seus alunos sofram uma série de reveses.

Baseado em uma história real, o filme inicia-se com o maestro apresentando os instrumentos aos pequenos músicos. Acostumados à uma vida dura de trabalho, pouco a pouco eles vão se aprimorando através do exercício e ganhando notoriedade dentro e fora do município. Na busca de patrocínio, Mozart acaba por estabelecer contatos dentro do mundo político. Por negar-se a deixar sua sonhada fundação ficar sobre o domínio do poder público, ou seja utilizada como propaganda, ele acaba por atiçar a ira dos poderosos.

Quando o garoto Erinaldo, de 13 anos e com graves problemas de visão, é seqüestrado e agredido com o vil objetivo de encriminar Mozart por abuso e pedofilia, é que o protagonista percebe a gravidade da situação. Acuado por uma polícia corrupta, ele vai em busca do apoio de representantes do alto escalão católico, e da mídia. Apenas quando esta é acionada através de um repórter que a maré vira em favor dos meninos e seu professor.

Além de um história bonita, Orquestra dos meninos (Brasil, 2008), é também um bom exemplo das barbaridades perpretadas por poderosos nos recônditos escondidos onde o coronelismo velho e burro insiste em repetir-se.

Felizmente também, escapa da grande mania do cinema nacional de escalar dezenas de atores de novela da Globo. Claro que os papéis principais estão nas mãos de alguns deles - Murilo Rosa, Priscila Fantim e Othon Bastos - mas apenas o caso de Fantim pode-se alegar que houve um equívoco óbivo na escalação. Além disso, a grande força do filme vem dos atores mirins, jovens talentos selecionados entre os moradores da região onde tomaram espaço as filmagens.

Trailer:



# De Repente 30


Desde que deixou a TV e seus tempos de agente secreta no seriado Alias, Jennifer Garner tem investido em sua carreira nos cinemas. A despeito de escolhas bastante duvidosas (como Elektra ou O Reino), a atriz obteve certo êxito no campo da comédia, a exemplo de seu desempenho em Juno. De Repente 30 (13 Going On 30, Estados Unidos, 2004) faz parte da boa safra de seu trabalho.

Após ser humilhada na frente dos convidados de seu 13º aniversário, Jenna Rink deseja "se esconder" até ter 30 anos. Como num passe de mágica, a garota acorda no dia seguinte na cama e na pele de uma mulher de tal idade. Agora ela é bonita, rica, cheia de roupas e acessórios bonitos. Mas nem tudo são flores em sua vida adulta, pois Jenna perdeu muitos de seus amigos e tornou-se uma perfeita bitch no caminho para o sucesso. E embora ela se mantenha não ciente disto em sua mente infantil, todos ao redor o estão.

Independente disto, ela permanece impassivelmente empática, e carismática e doce com os outros. E essa é a graça da personagem: o alívio que sua inonência promove no mundo tenso e ácido da adultez. Obviamente aqui há uma oposição dualista entre infância/pureza, adultez/maldade, o que se releva tendo em vista o público para o qual se destina.

Para não configurar exceção à regra das comédias protagonizadas por mulheres, o amor irá surgir na vida de Jenna. E é através de sua maior perda, seu amor de outrora, que ela encontrará o caminho da redenção, culminando com uma reavaliação de seu pedido inicial.

Resumidamente, enfim, De Repente 30, poderia ser descrito como o encontro entre Quero Ser Grande e Meninas Malvadas. Muito menos inspirado do que estes, entretanto.

Jennifer Garner e elenco dançam "Thriller":



# Em Qualquer Outro Lugar

A condição do adolescente é especialmente curiosa por caracterizar o quase. Quase independentes, quase maduros, quase responsáveis por si, os indivíduos nesta fase devem balizar a realização de seus propósitos com o respeito aos limites que lhe impõe o mundo adulto. Para aqueles cuja maior vontade é escapar da órbita de seus pais, o desafio parece ainda maior, pois na maior parte das vezes é preciso contar com o apoio daqueles que se livrar. Como lidar com complicada situação será o desafio de Ann (Natalie Portaman) e Adele (Susan Sarandon) irão enfrentar.

Em Qualquer Outro Lugar (Anywhere But Here, Estados Unidos, 1999), parece um filme concebido para exibição na sessão da tarde. Adele e sua filha Ann poderiam ser descritas como pares de opostos: a primeira é efusiva e sonhadora, a segunda reservada e pé no chão. Certo dia, Adele decide que é hora delas abandorem a pequena cidade que vivem por uma vida em Los Angeles, e a contragosto Ann deve seguí-la.

Na capital do cinema americano, a mãe sai em busca de um marido rico e da ilusão de ver sua filha triunfar em Hollywood, enquanto esta dedica-se aos estudos. Brigas e reconciliações sucedem-se até o final previsível. Para quem está interessado numa versão light do conflito mãe-filha talvez deva procurar por Minha Mãe É uma Sereia, um verdadeiro clássico de Sessão da Tarde que realmente merece a distinção de bom filme.

Trailer:



# Uma Noite de Amor e Música

Para os fãs de Arrested Development assistir Michael Cera ascender como ator indie em comédias de baixo orçamento, parece até uma reparação do destino. Com cara e jeitão de nerd, Cera fez sucesso em Juno e Superbad representando o mesmo papel que encarnava na televisão: o romântico atrapalhado. Em Uma Noite de Amor e Música (Nick and Norah's Infinitive Playlist, Estados Unidos, 2008), ele repete a fórmula de forma encantadora.

Nick é um cara azarado: seu carro é velho, sua banda não tem um baterista e sua namorada o deixou por um universitário. Norah, igualmente, não possue uma melhor sorte - filha de um figurão da indústria fonográfica, ela tem apenas uma amiga e um namorado estúpido. Felizmente, para ambos, os dois compartilham o mesmo gosto musical. E por conta disso irão enamorar-se ao longo de uma jornada noite adentro.

Como dito anteriormente, Cera está ótimo no papel. É dele o grande mérito de tornar sua personagem uma figura tão carismática e verdadeira. Kat Dennings - Norah - também está muito bem. Sarcástica e generosa, sua personagem é o contraponto perfeito para o tímido Nick. Juntam-se ao casal, coadjuvantes pitorescos, com destaque para a divertida Ari Gaynor que interpreta Caroline.

Recomendado para quem sonhava em misturar Antes do Amanhecer com Juno, tirando a profundidade do primeiro e o hype do segundo.

Trailer:


TOP 5 - Filmes com Adolescentes

1º Valsa com Bashir
2º Orquestra dos Meninos
3º Uma Noite de Amor e Música
4º De Repente 30
5º Em Qualquer Outro Lugar

Mas devo dizer que nenhum destes filmes é realmente muito bom, ou imperdível.

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